“Vocês são malucos!”, “Mas com a miúda?”, “Então, mas e os empregos?”, “Despediram-se?”, “Vocês são malucos!”, “Que inveja!”, “Adorava fazer isso”. Estas são, sem grandes diferenças, as reacções da família e dos amigos à notícia que é a sério. Vamos mesmo despedir-nos dos nossos empregos (nesta altura já o fizemos) e viajar à volta do mundo durante os próximos meses de 2016. O check-in neste Hotel Globo é feito em forma de resposta a estas interrogações e como forma de desmistificar os comentários que temos recebido.
1. “Vocês são malucos!” – É possível mas já cá volto…
2. “Mas com a miúda?”
Antes de nos conhecermos as viagens já faziam parte das nossas vidas. Viajámos muito com os nossos pais, mais tarde com os amigos ou sozinhos, depois de nos termos conhecido, obviamente, continuámos a viajar. Os últimos sete anos foram vividos em Angola e foi pela África subsariana que fizemos algumas das nossas melhores viagens. Moçambique, São Tomé e Príncipe, África do Sul, Botswana, Zimbabwé, Namíbia. E, claro, as províncias de Angola, da foz do impressionante Rio Congo, no Norte do país, à foz do mágico Rio Cunene, no Sul. Sempre Angola. A melhor e a mais bonita das viagens da minha vida.
A Mia ainda estava na minha barriga quando voou sobre o Atlântico Sul, de Luanda ao Rio de Janeiro, para um périplo frenético entre Brasil, Argentina e Chile. Foi aliás, numa clínica perto da Avenida Paulista, em São Paulo, que tivemos a confirmação de que seria uma menina.
A “Mia em mim” numa viagem ao Brasil, Argentina e Chile. Maio de 2012
Quando a miúda nasceu, em 2012, o nosso ritmo viajante abrandou consideravelmente. Mas ao contrário daquilo que os espíritos amigos mais pessimistas haviam preconizado – “Aproveitem para viajar agora porque quando tiverem filhos acaba-se tudo!” – não parámos de viajar. Nos três anos de vida da nossa miúda “made in Africa” e, talvez por isso todo-o-terreno, continuámos a percorrer as magníficas províncias de Angola, fizemos férias com ela às costas (literalmente) pelos Balcãs e também uma incursão pela Escandinávia.
Ou seja, até abrandámos aquele que era o nosso ritmo, mas não parámos. E que sentido faria? Se antes dela nascer viajar fazia parte da nossa rotina, era suposto mudarmos o nosso estilo de vida? Viajamos de forma diferente, é certo, – e sobre isso também escreveremos por aqui – mas continuamos a fazer o que mais gostamos. Só que agora ainda em muito melhor companhia. Por isso, quando nos perguntam “Viajar meses seguidos à volta do mundo? Com a miúda?”. A resposta só pode ser: “Sim! Já viram a nossa sorte?!”.
Percorrendo os lagos do fabuloso Parque Nacional Plitvice na Croácia. Setembro de 2013
A nossa ‘mochila’ preferida em Kotor, Montenegro e em Dubrovnik, Croácia, com 1 ano acabado de fazer. Setembro de 2013
3. “Então, mas e os empregos?”, “Despediram-se?”
Depois de sete anos de vida africana, com a miúda a crescer e a família a reclamar a companhia da mais nova impôs-se o regresso à “velha Europa”. O plano incluía um intervalo, uma pausa intercalar entre os últimos anos tão intensos e marcantes vividos em Angola, e aquele que seria o reencontro com Portugal e com as rotinas deste lado do mundo.
O regresso acabou por ser mais súbito do que o programado. E também mais cedo do que o previsto recomeçámos a trabalhar em Lisboa. Viver tantos anos fora, voltar e conseguir emprego num contexto difícil como o nosso, é uma sorte grande. Sabemos bem. E escrever uma carta de rescisão de contrato de trabalho acarreta sempre algo de profundamente angustiante mas também de libertador. É um tiro no escuro. É unilateralmente, sem interferência de alguém, escolher mudar o rumo ao nosso caminho. Se correr bem é o prazer de uma decisão acertada. Se correr mal não há ninguém a quem culpar, foi algo que partiu de nós e é da nossa inteira responsabilidade.
Esta volta ao mundo servirá para cumprir o sonho antigo de viajar durante meses a fio, e também para reflectir e assimilar a dimensão daquilo que vivemos em Angola. (Pergunto-me se será possível?) Ao mesmo tempo que conhecemos pessoas e lugares tão diferentes. O (nosso) tempo para fazer isto é agora.
Nas areias da Ilha de Luanda, Mussulo, Cabo Ledo, Benguela e Namibe
4. “Que inveja!”, “Adorava fazer isso”
Os portugueses são dos povos que menos viajam. Parece estranho mas a verdade é que emigramos muito mas viajamos pouco em turismo. Segundo dados do Eurostat sobre o sector, em Portugal, apenas 22,4% da população residente faz turismo. Destes apenas 3,9% se deslocam ao estrangeiro, sendo que os restantes “vão para fora cá dentro”.
A comparação com os países membros da União Europeia atira-nos para os últimos lugares da tabela. A Suécia, a Noruega e a Suíça são as economias europeias onde mais se viaja por motivos pessoais com percentagens superiores a 70%.
Também em países como os Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia tirar meses ou mesmo um ano para viajar é normal. É o famoso ano sabático ou “gap year” que jovens, menos jovens e mais velhos tiram para andar pelo mundo. Sozinhos ou em família. Claro que os contextos económicos e o mercado de trabalho condicionam essas escolhas. Em países como Portugal, onde a oferta de emprego é escassa ou nula, sair do emprego (quem o tem) e dar um salto de fé para uma aventura é um risco.
Acredito que todos estes factores explicam o misto de admiração e estranheza com que família, amigos e conhecidos olham a nossa decisão. E também por isso sabemos que o regresso poderá trazer dissabores… mas foi uma opção consciente, esta a de deixar de pensar: “Que inveja! Eu adorava fazer isso!” e fazer mesmo. Esta escolha não nos torna nem pessoas – e progenitores – mais corajosos nem mais irresponsáveis.
A nossa última viagem dentro de Angola foi ao Deserto do Namibe e à Foz do Cunene com passagem pela Baía dos Tigres e pelo Parque Nacional do Iona. Setembro de 2015, em vésperas da Mia fazer 3 anos
De volta ao 1. “Vocês são malucos!”
Quem tem filhos já teve de certeza aquela sensação de deslumbramento quando um filho faz algo que nunca tinha feito antes. Primeiro, e paulatinamente ao longo de meses vem o sorrir, o andar, o falar. Depois, e sobretudo com a escola é compulsivo, o cantar determinada canção, atirar à queima-roupa uma expressão que encaixa perfeitamente no que estamos a viver, dar uma cambalhota atabalhoada ou já com perícia, de repente começar a desenhar braços e pernas nos bonecos que costumavam ser só o esboço de um círculo, escrevinhar o próprio nome … Quanta perfeição e genialidade pode atingir um “m” com três perninhas ou um “i” com a bolinha?! No outro dia a Mia chegou a casa e começou a falar sobre o Outono e as folhas caducas…Folhas caducas?!
Dei por mim a pensar que as folhas que caem são como a infância dela. Breve, efémera, passageira. Olho para a minha filha e interrogo-me a todo o instante onde é que ela ouviu isto, aprendeu aquilo ou sabe que gosta de amêndoas numa altura em que ginguba (amendoim) era o único fruto seco que lhe tinha dado a provar. Primeiro na creche em Luanda, depois no colégio em Portugal, a maior parte do tempo da vida dela – tal como da maioria das crianças – é passado longe de nós. E a chegada a casa é dividida entre o banho, brincar um pouco, jantar e deitar. Com birras pelo meio.
Esta viagem é também uma tentativa de cristalizar no (nosso) tempo a infância dela. Criar memórias, viver emoções, partilhar momentos, traduzir tudo isto (sim, porque não?!) em textos, em fotos, em vídeos, e guardar num lugar – físico ou emocional – que seja possível visitar um dia, quando para ela os pais forem “uma seca” e uma companhia a evitar sempre que possível. Esse tempo vai chegar e é já “amanhã”.
Por isso, nos próximos meses vamos poder ver cada acordar, cada reacção, cada aprendizagem, fazer parte disso. Vivê-la demoradamente, observar a curiosidade a atiçar-se com cada nova descoberta, o traço a aprimorar-se em cada desenho na folha do caderno.
Mas é também claro que… durante os próximos meses não vai haver creche, amigos ou avós para ficar com ela quando for preciso ou desejável. Nem vai haver aquela sensação de alívio inconfessável do “Ai que bom, finalmente amanhã já é segunda-feira e há escola!”. Nos próximos meses vamos ser só nós os três em loop contínuo. 24 horas por dia, sete dias por semana…
“Vocês são malucos!”. Aqui chegados só resta dizer: pois somos. Têm toda a razão…
Uma ínfima parte da nossa vida em Angola “virou” programa de televisão para a RTP. Podem ver clicando aqui ao lado http://www.rtp.pt/play/p1802/e186290/portugueses-pelo-mundo
Os meus parabéns pela vossa coragem. vou seguir vos atentamente :). Beijinhos
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Beijinhos, Mariana! Não acho mesmo que sejamos assim tão corajosos mas percebo a ideia 😀 Obrigada por nos fazeres companhia nesta viagem
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Poder viajar de borla com vocês três, para mim é ótimo. Vamos lá ver se vos consigo acompanhar…
Vontade não me falta 😀 Bjkas linda
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Força, Beatriz! Beijinhos para si
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Fantástico família linda minha ❤️❤️! Acho excelente! Vai ser muito bom para os três e para nós seguidores uma aventura. Divirtam -se muito! Mia rocks! E vai adorar
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Que bom que estás a bordo connosco em mais uma aventura. Se ela não gostar pode sempre ir ter contigo e fazer queixas 🙂
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A palavra que as tuas palavras e a vossa decisão activam em mim é ‘apenas’ esta: AMOR 🙂 Com caixas altas. Boa viagem e muitos caracteres de felicidade bjs
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Paula…obrigada! 🙂 Um beijinho grande para Luanda
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Fogo à peça, “putos”. A família Almeida fica aqui a torcer – em Luanda, onde nos conhecemos – pela vossa aventura. Grande beijinho Joana, Chico e Mia. Aguardamos pelas vossas “páginas”.
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Tão bom! A família Almeida é só boas vibrações. Saudades dos petiscos da Susana 🙂
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Vou seguir de perto, no ano que vem vou eu e a minha pequenita! Desbravar o mundo! 😀 Boa viagem, que encontrem tudo o que não esperam, grandes momentos, muito amor e bastante aprendizado! Eu acho que a Mia vai ser uma Pessoa e não uma pissoua. Mas eu só acho mesmo…
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Aoaní, um beijo garota bonita! Vamos trocando ideias e dou-te dicas 🙂 Diz a Luanda que lhe sinto a falta 😉
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Não são nada malucos!! 🙂 Acho lindo a Mia com os seus pequenos olhitos ter já a oportunidade de ver tanta coisa bela! Mesmo que um dia não se lembre de tudo, de certeza que há muita muita coisa que vai ficar! Divirtam-se muito que uma parte do mundo espera por vocês e outra parte torce para que corra tudo muito bem! ❤
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Lili, obrigada minha querida ❤ É bom poder contar com a tua torcida
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Vou acompanhar com muita curiosidade esta vossa “aventura”! vão e sejam felizes!
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Obrigada, Gonçalo! Um beijo e abraço para ti e para a Margarida
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Estaremos por aqui (Luanda, Amore Mio) a acompanhar todos os passinhos! Beijinhos e desfrutem!
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Obrigada! Saudades dos gelados deliciosos na Comandante Gika 🙂
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Vou seguir-nos atentamente… Um beijinho da mamoite da banda.
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Beijo, mamoite mais gira!
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Porque gosto à brava de vocês, vou estar sempre sempre ao vosso lado nesta linda viagem.
Beijos e abraços,
Cláudia
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E nós de coração cheio com o teu apoio e carinho! 🙂
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Voces são uma grande inspiração…vou me planejar para que um dia possa seguir o mesmo caminho que vocês! Que a viagem seja eterna!Beijos desde Brasil!
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Força, Amanda, faça isso sim 🙂 Um beijo enorme para o Brasil que tanto adoro
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Provem que todas as pessoas “quadradas” que vos acham malucos estão erradas. Acho que é um ótima ideia a vossa. Se houvesse mais pessoas como vocês, o mundo seria muito melhor. Aproveitem cada minuto. Boa sorte.
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😀 Obrigada, Ana (bem vamos precisar de saúde e sorte ehehehe) Beijinhos
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Vou seguir com muita curiosidade a vossa mega ” aventura”. Será decerto uma viagem enriquecedora para os três. E voltem felizes!…
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Que bom! Obrigada, Maria José! Um beijinho
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Das famílias mais fantásticas que conheci! Vai ser sem duvida uma das fases mais marcantes das vossas vidas, por isso aproveitem cada pedaço! E sim são MALUCOS! Mas ser Maluco é tão bom!!!!!!!!
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Eheheheh Obrigada pelo apoio, Rui! É muita bom é! 🙂
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