Antes da partida pedi à educadora da Mia, quem a tem acompanhado nos últimos meses, para falarmos um pouco. Queria trocar algumas ideias sobre a viagem, saber a opinião dela, ouvir conselhos para os meses que se aproximam e que vão levar esta miúda de três anos e meio para ambientes tão diferentes.
A conversa foi bonita para mim, enquanto mãe, e esclarecedora, enquanto viajante que se prepara para dar uma volta ao mundo e, por isso, não resisto a partilhar aqui alguns dos tópicos abordados até porque vão ao encontro de uma questão crítica:
Até que ponto uma criança tão pequena aproveita uma viagem assim?
- A idade
Comecei por ouvir que, na opinião da educadora, claro, esta é a melhor idade para fazer uma viagem deste género. A entrada no primeiro ciclo será só daqui a dois anos e a característica que, no fundo, é o motor para qualquer travessia pelo mundo está lá: a curiosidade. Vale para miúdos e graúdos e a Mia, como qualquer criança na idade dela, parece querer saber tudo, perguntar tudo, participar em todas as actividades na sala, explorar o que se passa no exterior. Viajar por vários países tão diferentes é um parque de diversões gigante, um manancial inesgotável de matérias a descobrir em torno dessa grandiosa temática que dá pelo nome de conhecimento do mundo.
- As actividades
Queríamos saber se deveríamos fazer algum tipo de actividades específicas, tal como ela está habituada na sala do pré-escolar partilhada com crianças até aos 6 anos. A educadora disse que o que interessa é brincar. E sublinhou: brincar muito. Na idade dela tudo é aprendizagem e a viagem só por si será a maior das experiências. Não é preciso forçar nada. Ela terá muito tempo para conhecer números e identificar letras. Por isso, papel e lápis de cor, plasticinas e a natureza como matéria prima (conchas, pedrinhas, folhas, ramos de árvores) será mais que suficiente para o seu desenvolvimento nos moldes em que aconteceria por cá.
- As rotinas
As crianças precisam de rotinas, sabemos. Mas também neste ponto a educadora da Mia ajudou-nos a relativizar algumas das nossas dúvidas. Nas dinâmicas de uma creche as rotinas dão segurança, contribuem para a criança perceber, por repetição, que cumpridas todas as etapas (actividades, descanso, refeições) no final do dia vão estar novamente com a família. Neste caso ela estará sempre connosco e as necessidades de segurança e de confiança serão assim satisfeitas. Teremos de garantir refeições como ela gosta, dentro do possível e de acordo com os seus hábitos, boas noites de descanso, brincadeiras. A nossa companhia de pais (e estatuto actual de melhores amigos) fará o resto.
- O que fica na memória
“É um disparate fazer uma viagem destas com uma criança tão pequena porque não se vai lembrar de nada”, ouvimos muitas vezes. Quanto a ter – ou não – recordações, a educadora foi clara. “Ela é, de facto, muita pequena”. As memórias que a maioria de nós tem remontam a acontecimentos a partir dos 5 anos, ainda que seja muito possível a lembrança de episódios esporádicos sucedidos antes disso. É inquestionável. No entanto, há as emoções que ela irá sentido ao longo do caminho e que são pedra fundamental na construção da sua personalidade. A propósito disto, a educadora contou-me como, recentemente, numa actividade da aula ao redor de um mapa foi mostrada às crianças a localização de vários países com ligação a Portugal. Quando apontaram Angola a Mia saltou e disse orgulhosamente: “Eu vivo em Angola!”. Na verdade, não “vivemos” em Angola há quase um ano, mas para ela, pelos vistos, sim… Durante a conversa fiquei ainda a saber que na sala a Mia já partilhou com grande felicidade que vai ver os cangurus e os koalas na Austrália…Tudo parece assim bem encaminhado na cabecinha dela…
- A personalidade
Nos 3 anos e meio de vida, a nossa filha viveu em quatro casas diferentes em Luanda e feita saltimbanco entre duas casas em Portugal. Ou seja, a ideia de “casa” como espaço físico é uma concepção um pouco relativa para ela. Está habituada à mudança e a viver com as coisinhas dela espalhadas um pouco por todo o lado. Gostei de ouvir a educadora dizer que ela não tem um espírito materialista e que se entretém facilmente em qualquer dos espaços da sala, da biblioteca ao faz de conta, passando pelos trabalhos manuais. Fiquei feliz, a pensar que o conjunto destes traços, dos quais não me tinha apercebido em toda a extensão, poderá ajudar em muito a nossa jornada.
- Sociabilidade
Fomos alertados para as saudades que terá dos amigos e da possível falta de convívio com outras crianças. Sabemos que pode ser um problema e, na verdade, temos tido essa preocupação na forma como planeamos a viagem. Procuramos ficar alojados em casas particulares ou em pousadas geridas por famílias com crianças para, sempre que possível, garantir esse contacto. E, claro, levamos fotos dos amigos da Sala Azul para recordar e um presente lindo (absolutamente perfeito) feito por eles para a Mia.
O presente dos amigos da escola. Uma fraldinha com desenhos de todos para acompanhar a Mia na viagem
Tudo medido e pesado, saí da conversa de coração cheio. E, caramba, a Mia está a crescer com pais que decidiram realizar um sonho de vida. Isso também terá de contar para alguma coisa.
Obrigada, Inês!
Obrigada, Raquel! Por serem pessoas e educadoras maravilhosas e com uma energia tão boa.
Obrigada Lara, Margarida e toda a comunidade, entre educadoras, funcionárias, professores, pais e avós do Colégio do Centeio. Em África diz-se que é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança. Foram a nossa aldeia no quase último ano que passou e vou sempre agradecer por isso. Até sempre!
As crianças aprendem com o exemplo dos pais. Ver que vocês estão a realizar o sonho da vossa vida vai fazer com que ela ache posssível e faça por realizar os seus sonhos. As experiências que estão a propocionar à Mia podem não ficar na memória mas ficam nas competências adquiridas como a autonomia, a capacidade de resolver problemas, a adaptabilidade…
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😀 Acredito nisso também. Obrigada pela companhia por aqui. Beijinhos
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Parabéns por estas educadoras tão esclarecidas. Mesmo que a Mia não se lembre da viagem (o que duvido, visto que ela parece ser uma miúda muito esperta e precoce!) sempre existem as fotos. As fotos GIRAS e criativas que a mãe Joana sabe tão bem tirar. Hoje, adulta, tenho nas minhas fotos de infância um verdadeiro tesouro. Caprichem nas fotos…Bjs.
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🙂 Fica combinado, Ana! Vou tentar caprichar…também sinto o mesmo em relação às minhas fotos de infância. Beijinhos para todos vocês em Luanda e obrigada pela força 😉
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Obrigado também a vos que são um exemplo a seguir dos quais nunca nos iremos esquecer. Uma excelente viagem e o que vos desejamos e iam vida repleta de felicidade. Adorei conhecer-vos. Mil beijinhos e um abraço apertadinho para a minha princesa. Ines
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Lindo Joana não te esqueças que és os meus olhos. 💜 adoro-vos.
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🙂 Beijinhos, Raquel e um abraço apertado ❤
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🙂 Beijinhos, Inês! Tudo de bom, sempre.
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Eu e a Lara adoramos conhecer a Mia e a sua família, sempre foi uma menina mto alegre, um pouco tímida às vezes mas muito meiga. Vou ter imensas saudades dela, e desejo que tenham muita sorte, e que todos os dias sejam repletos de alegria. Um grande beijo
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Obrigada, Margarida! Beijinhos para as duas 🙂
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Desejo-vos uma viagem em segurança e que encontrem sempre aquilo que procuram. A vossa menina vai ser, certamente, muito feliz. Tenho pena de não vos ter conhecido, são uma família com muito para partilhar. Boa aventura. Sejam felizes. Teresa, mãe da Maria Carolina da sala azul
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Olá Teresa, muito muito obrigada pela mensagem e pelas palavras de incentivo. Um beijinho especial da Mia para a Maria Carolina.
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Sem qualquer dúvida que irá ser muito enriquecedor para a Mia. O André já sente falta da sua amiga de brincadeiras. Adorámos conhecer-vos e esperamos voltar a ver-vos um dia. Beijinhos dos país do André da sala azul.
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