A nossa primeira semana no Japão e chegada a Tóquio não foi das mais suaves. Eu, que me gabava de não sentir fortemente essa coisa do “jet lag”, fui abalroada pelos efeitos da “descompensação horária” causada pela mudança de fuso. Na verdade, fomos os três, e cada um no seu ritmo diferente… Só agora, uma semana depois, estamos a conseguir recuperar as rotinas do corpo e a repor a normalidade. No entanto, e como por vezes acordávamos às 2 ou 3 da manhã e saíamos para a rua aos primeiros raios de luz, começámos logo a explorar Tóquio. Eis o nosso top 5, até agora, desta cidade.
1. Coreografias urbanas
Vivem na zona metropolitana de Tóquio mais de 37 milhões de pessoas e na cidade cerca de 10 milhões. Números impressionantes que dão à capital do Japão o título de área mais populosa do mundo. Numa tarde fomos até ao mítico cruzamento de Shibuya, um dos mais movimentados do mundo, onde dizem que a cada mudança de sinal atravessam a rua cerca de mil pessoas de cada vez em seis direcções diferentes. Assistir a estas coreografias urbanas é fascinante. A multidão cruza-se vinda de vários lados da rua com uma agilidade e elegância impressionantes.
Quando aqui estivemos, num dos ecrãs gigantes do local, sempre que o sinal para peões ficava verde começava o anúncio da marca de roupa sueca H&M gravado em Lisboa e protagonizado pelo futebolista David Beckham. A música utilizada no anúncio, Pirates de Max Steiner, um clássico de 1944, assentava melhor que uma luva pronto-a-vestir neste desfile citadino de uma Tóquio em 2016. Não resistimos a passar algumas vezes para trás e para a frente, fazendo parte deste bailado nipónico.
Mural Mito do Amanhã de Okamoto Taro alusivo à explosão da bomba atómica em Hiroshima, na Estação de Shibuya
Os transportes, sobretudo o metro e os comboios, em hora de ponta também proporcionam um espectáculo obrigatório. Na estação de Shinjuku, bem perto da casa onde estamos a ficar, cerca de três milhões de pessoas cruzam-se diariamente sem nunca se atropelarem ou esbarrarem uns nuns outros. A delicadeza e o civismo desconcertante dos gestos dos japoneses parecem combinar-se perfeitamente com a eficiência do desenho e concepção da rede de transportes.
Outra coisa impressionante é o silêncio. Tanta gente, milhões de pessoas, e não há barulho nas ruas – com excepção das zonas de Harajuku, onde se reúne a comunidade jovem e de Akihabara, a zona frenética dos jogos e da electrónica. Nas estações não há vozes elevadas – na maior parte das vezes nem há vozes pois nas carruagens há sinais para que não se fale ao telemóvel. Nós os três devemos ser, por estes dias, as pessoas mais ruidosas desta cidade. Arigato …pela paciência!
A Mia entre dois símbolos japoneses: a movimentada Estação de Shinjuku com os seus três milhões de passageiros diários e a Hello Kitty.
2. Arquitectura: entre o ultra-moderno e o tradicional
Vista a partir do Tokyo City View, observatório anexo ao Museu Mori Art, em Roppongi
Tóquio deve ser um prato cheio para arquitectos e designers. No primeiro embate, saindo do Aeroporto de Haneda e no comboio para Tóquio, a cidade parece feia. Edifícios altos e cinzentos uns atrás dos outros não atraem por aí além. A pouco e pouco, quando nos embrenhamos nos bairros – mais parecem cidades dentro da cidade – vamos descobrindo os encantos e particularidades desta metrópole.
Em Shinjuku, o centro de negócios, destaca-se o fotogénico arranha-céus Mode Gakuen Cocoon Tower e a Torre do Metropolitan Government Office, onde no 54º andar há um observatório gratuito com uma vista de quase 360 graus sobre a capital.
Em Roppongi, visitámos o enorme complexo comercial e residencial Roppongi Hills. Na Torre Mori fica um museu de arte moderna e o Tokyo City View, um magnífico ponto de observação da cidade. Este projecto promove um estilo de vida em que é possível viver, trabalhar e usufruir de espaços culturais tudo na mesma zona. Numa cidade gigantesca como Tóquio onde, apesar da eficiência dos transportes, se demora a chegar aos vários bairros da cidade, percebe-se bem a razão deste conceito.
Vista para a torre Sky Tree a partir de Asakusa
Complexo do Shiodome. Sede de empresas, escritórios, zona comercial e restauração
O Mode Gakuen Cocoon Tower e uma das famosas esculturas LOVE de Robert Indiana, em Shinjuku
O templo de Zojo-ji, no Parque de Shiba e a Torre de Tóquio, inspirada na Torre Eiffel e símbolo do renascimento da cidade após a 2ª Guerra Mundial.
Kaminari-mon, o portão de acesso templo budista Senso-ji, em Asakusa, e a Tokyo Sky Tree, ao fundo
3. Parques e jardins
A estética japonesa está também reflectida nos parques e jardins de Tóquio. Existem vários espalhados pela cidade e estão impecavelmente cuidados. Algumas árvores como pinheiros e damasqueiros são esculpidas com arte. Conhecemos alguns destes locais também por causa da Mia. São um bom escape às zonas mais confusas e permitem correr, jogar à apanhada e brincar às escondidas, ouvir os pássaros, ver os peixes, cheirar as flores…enfim, gastar energias.
Shinjuku-gyoen, conhecido pelas orquídeas e pelas cerejeiras em flor durante a Primavera
Visita de uma escola a um campo de flores ao jardim de Hama-rikyu
Jardim de Hama-rikyu
Passámos algumas manhãs e tardes em parques e jardins tais como o Hama-rikyu, em Ginza, o Shinjuku Gyoen, em Shinjuku, o Yoyogi, próximo a Harajuku, e no enorme Ueno e fiquei com vontade de voltar na Primavera, lá para o final de Março, início de Abril, quando as maravilhosas cerejeiras em flor – ou sakura – atingirem o seu pleno. Se no Inverno os parques estão assim – em parte devido às ameixoeiras que desabrocham mais cedo – imagino daqui por uns tempos, altura que são esperadas as grandes multidões de turistas para um espectáculo que só a natureza proporciona e aqui se chama hanami. É também nesta altura que, dizem-nos, os japoneses libertam-se de alguma da sua sobriedade e o Japão fica um lugar mais feliz…“Quero fazer contigo o que a Primavera faz com as cerejas”, diria o chileno Pablo Neruda.
4. Experiências gastronómicas
Comer no Japão é comer… sushi. Era essa a nossa ideia mas até agora ainda não aproveitámos convenientemente. A prioridade tem sido encontrar refeições que sirvam para os três e a oferta é ampla e diversificada. Há muito por onde escolher e a chamada comida de rua é bastante mais em conta do que pensávamos. Um amigo que vive em Tóquio apresentou-nos ao famoso ramen e logo tornou-se uma das nossas escolhas principais, primeiro porque a Mia adora e em segundo porque é muito barato. Geralmente os restaurantes que servem este caldo de massa com carne, vegetais, cogumelos ou ovo, são espaços pequenos – um balcão com bancos altos – mas simpáticos. Outro favorito até ao momento chama-se okonomiyaki, uma espécie de panquecas recheadas com carne, marisco ou vegetais. Fizemos duas incursões pelo sashimi – a Mia ficou-se pelo peixe grelhado acompanhado de arroz – e continuamos a guardar-nos para o sushi.
Ramen, caldo de massa com carne, vegetais, cogumelos ou ovo. O favorito da Mia.
Restaurante Nagi na pitoresca zona de Golden Gai
Batata doce assada à venda na rua
Bancas ao redor do famoso mercado do peixe Tsukiji
Okonomiyaki, uma espécie de panquecas à moda japonesa cozinhadas à mesa
5. Vista para o Monte Fuji
Pura magia. O Monte Fuji é um símbolo do Japão e uma das imagens icónicas do país. Este vulcão adormecido é considerado património mundial e recebe centenas de milhares de visitantes todos os anos. Não pensamos subir – por motivos óbvios – mas é possível que até ao final da nossa passagem pelo Japão ainda o visitemos de perto. Para já temos contemplado o Monte Fuji da janela da “nossa” casa de Tóquio. Nada mau…
Muito giras as fotos. Que bela aventura 🙂 bjs e boa viagem
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Obrigada, Rita! Tem sido mesmo 😀 beijinhos e que bom que passaste por aqui 😀
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Adorei. E vê lá ser não abusas do sushi quando chegar a hora 😀 Bjs
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Eheheh não sei se consigo, vamos lá ver…depois conto 😀 beijinhos
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Um deleite. Beijos para todos.
Cláudia Cláudio
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Adorei a vossa perspetiva sobre Tóquio, mais realista do que os (poucos) relatos a que tenho tido acesso. Vão a mais algum sítio no Japão? Ouvi dizer que Osaka vale a pena visitar.
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