Foram 40 dias de viagem pelo Japão e Birmânia antes de chegar à Austrália. Logo que aterrámos em Sidney o objectivo era relaxar, abrandar o ritmo, ter tempo para descansar, escrever sobre o que vivemos e planear as próximas semanas que vamos passar no país.
O nosso plano estava traçado desde o início: dois dias no centro de Sidney, no bairro de Newtown, zona repleta de lojas e restaurantes da moda, ponto de partida para explorar o centro, a famosa zona da Opera e do porto da cidade. E depois, antevendo a necessidade de uma pausa estratégica, decidimos arrendar quarto em casa de uma família australiana durante uma semana inteira num subúrbio a norte da cidade, em Umina Beach. Uma opção delicada – nunca sabemos como são as pessoas com quem teremos de conviver debaixo do mesmo tecto – mas económica e a pensar na Mia. A dois não teríamos ido por este caminho certamente.
Praia de Umina nos subúrbios de Sidney
Praia de Avalon, também na costa a norte de Sidney
Piscinas de água salgada na Praia de Avalon
A opção foi a mais feliz. Descobrimos que o subúrbio australiano pode ser uma costa oceânica esplêndida e uma praia só para nós. Viemos parar a casa de uma família composta por um casal da nossa idade e quatro crianças dos 6 meses aos 10 anos, cães, galinhas, um galo e um gato.
Uma casa na praia. Acordamos com o som do trompete tocado pelo irmão mais velho e com a recolha dos ovos no galinheiro. Durante o dia temos sol, mar, praia, parque infantil, trampolins no jardim. Ao entardecer chegam os jantares com vinho branco gelado e a Nina Simone a tocar, conversas entre adultos sobre viagens pelo mundo, miúdos entretidos com aviões de papel, pistas de comboios, máscaras, desenhos animados. Este casal australiano viajou pela Índia durante seis meses com os dois filhos mais velhos…os quatro numa mota! Nunca mais me falem em “coragem” para viajar com crianças…
Num destes dias convidaram a Mia para ir à aula de natação do miúdo da casa que tem a mesma idade do que ela. E lá fomos nós conhecer as piscinas municipais cá do sítio. Sentimo-nos perfeitos locais. As minhas cores denunciam-me mas continuamos a sentir-nos assim quando tomamos café e o dono, natural da Malásia e ex-jogador de cricket, vem falar connosco sobre a sua vida de emigrante. E ali ficámos, à beira oceano, entre uma “bica” e dois dedos de conversa.
Bairro de Newtown, Sidney
Esta vida de marinheiras, Newtown, Sidney
Os avós dos miúdos da “nossa casa”, por coincidência, vão de férias para a Grécia e Portugal no próximo Verão e convidaram-nos para jantar em casa deles. Ali estávamos nós, numa moradia em Palm Beach, com um gin tónico temperado com lima nativa australiana, a falar do eléctrico 28, da Pensão Amor, do Bairro Alto, das ruelas de Alfama, do Beco de São Miguel, de pastéis de nata, do Tejo, da Quinta da Regaleira em Sintra, do Alfa Pendular e das vinhas do Douro, do comboio que serpenteia até à Régua e ao Pinhão… Em troca recebemos conselhos dos lugares a não perder na Austrália: a mítica Uluru no centro deste vasto país, a estrada para Darwin e o Parque Nacional Kakadu, guardião da história aborígene, a magnífica barreira de coral cada vez mais perto de desaparecer…Temos de ir, iremos…
E acima de tudo isto, a alegria da Mia, com direito a pequeno almoço surpresa debaixo de uma tenda. Aos três anos a vida pode ser tão doce quanto o bolo de banana feito com o carinho de um novo amigo.
Em breve vamos partir estrada fora numa “carrinha-casa”. Vai custar deixar um lugar onde somos felizes, ainda que rumo a montanhas que dizem ser azuis.
Tão, mas tão bom! keep on going que o mar está swell. Sicas
GostarGostar
Obrigada, Sicas! Beijinhos
GostarGostar