Ir a um museu de arte com crianças pode levantar algumas dúvidas:”Será boa ideia? Vão gostar ou aborrecer-se? E se decidem portar-se mal?”, – mas não tem de ser assim. Temos encontrado pela viagem algumas dicas e ideias para tornar uma ida com crianças ao museu num programa surpreendente, inspirador e muito divertido. Ora vejam.
Visitar museus tem sido um programa frequente na viagem quando estamos no contexto de cidade. Sobretudo na Austrália, e agora na Nova Zelândia, temos descoberto como é interessante e divertido visitar estes lugares na companhia da Mia mesmo quando as exposições destinam-se ao público adulto.
Na verdade, os australianos e neozelandeses esmeram-se para tornar a experiência enriquecedora para todos: desenham roteiros específicos para famílias com a localização das obras mais susceptíveis de agradar aos miúdos; nas placas informativas/legendas que acompanham cada peça há, quase sempre, a explicação geral e uma explicação “para crianças” com uma abordagem simples, divertida e que lança uma questão ou jogo para os pequenos “interagirem” com a obra. Por vezes, têm também actividades próprias e salas no museu específicas para as crianças a decorrer em simultâneo com a exposição “para crescidos”.
Nesta foto, três crianças fazem fila para ser fotografadas numa máquina automática na sala para crianças da exposição Andy Warhol | Ai Weiwei que visitámos na National Gallery of Victoria em Melbourne. O resultado final é inspirado nos retratos coloridos da pop art de Warhol:
Ainda na mesma exposição, a admiração do artista chinês Weiwei por gatos – fotografa-os e partilha na sua conta pública no Instagram – é aproveitada para propôr um exercício aos mais novos: “Senta-te, observa uma das fotos de gatos tiradas por Weiwei, imagina aquilo que o gato está a pensar e escreve uma legenda divertida. Quando terminares podes partilhar o resultado com os teus amigos e família”.
Cativa-me a forma como se “vivem” neste lado do mundo, os espaços culturais, os museus e as galerias de arte. De como estes são lugares inclusivos, abrangentes, que estão abertos e acessíveis a todos. E de como o acesso à arte é transformado em algo comum, descomplicado, próximo.
E fiquei a pensar: como será em Portugal nesta altura?
Tendo vivido os últimos anos em Angola, onde existem poucos e muito maltratados museus, as idas a estes espaços com a Mia em Portugal contam-se pelos dedos de uma mão. E, como ela era ainda muito pequena, não consigo comparar com o que tenho visto por aqui. Por isso, resolvi pedir ajuda a alguém com experiência neste âmbito: Namalimba Coelho, assessora de imprensa do Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e mãe de dois filhos pequenos.
Devido à sua profissão, os dois filhos de Namalimba praticamente “nasceram no museu” e sempre se relacionaram de perto com este meio, por isso, a assessora não hesita em dizer que: “Como mãe, tenho a certeza que este contacto desde cedo despertou-os para se relacionarem com a arte e a cultura de forma natural, encarando-as como algo que faz parte da sua forma de estar e de experienciar o mundo e a sociedade”.
Para quem visita um museu quer com a escola quer em família, Namalimba Coelho diz que existe, em Portugal, cada vez mais oferta de programação e actividades educativas para diferentes idades e contextos de visita. Boas notícias, portanto!
E dá alguns exemplos: “As festas de aniversário e as férias escolares dos meus filhos, por exemplo, são passadas no museu desde os 4 anos de idade, em actividades com temáticas e abordagens desenvolvidas em torno da colecção ou das exposições temporárias, o que permite uma relação com os conteúdos muito mais próxima e de desconstrução a vários níveis”.
Sobre as vantagens que trazem estas visitas a museus e galerias, Namalimba acredita que “muda a forma como perspectivamos mundo e o que nos rodeia. A arte tem essa capacidade boa de transportar e transmitir emoções únicas que nos elevam na forma de percepcionarmos a realidade e o que vai para além dela”. E, quanto mais cedo se começar, melhor.
5 Dicas para tornar uma ida em família ao museu mais divertida para todos:
1 – Abrandar o ritmo
Palavras, imagens e vídeos passam diariamente por nós a um ritmo alucinante, seja através da televisão, dos computadores, dos tablets ou telemóveis. O ritmo nos museus e galerias de arte é outro. É melhor não tentar ver tudo, mas sim procurar o que for mais atraente para as crianças.
2 – Ler as placas informativas
Todas as obras têm uma placa com informação relativa à peça. Com esses dados podemos: ver de que país é o artista; descobrir que materiais utilizou para fazer aquele trabalho; imaginar sobre o que ele estaria a pensar quando decidiu fazer aquela peça.
Uma série de três fotos do artista chinês Weiwei e a explicação para a obra na versão para crianças: “Já alguma vez partiste um vaso em tua casa sem querer? Nestas fotos o artista Weiwei está a fazê-lo de propósito. (…) Ao destruir o vaso, Weiwei faz-nos questionar a forma como olhamos para o passado e a importância dos objectos antigos na nossa vida”, National Gallery of Victoria, em Melbourne, Austrália
3 – Lançar perguntas
A arte tem o condão de nos deixar usar a imaginação sem limites. Durante a visita a um museu ou galeria de arte podemos lançar algumas perguntas aos nossos filhos com o objectivo de espevitar a imaginação deles. De certeza que eles vão manter-se interessados e as respostas vão surpreender-nos:
- A que será que cheiram ou que sabor terão determinados objectos que observamos na pintura.
- Em frente a um quadro de arte abstracta, por exemplo, perguntar: “Se este quadro tivesse som, que música seria?”
- Pedir à criança para dizer se, na paisagem de determinado quadro, estará calor ou frio, qual a estação do ano.
- Transformar uma pintura no pretexto para a criança criar uma história: “E, a seguir, o que achas que aconteceu?”
- Inventar uma história engraçada que ajude a contextualizar a origem da obra que estamos a ver.
4 – Respeitar as regras
Pode ser muito tentador para os mais pequenos tocar nas obras de arte. A única forma é ir sensibilizando, mostrar os sinais e placas de “proibido mexer”, justificando que as nossas impressões atraem sujidade e podem danificar as obras.
É um desafio interessante fazer entender uma criança que este cavalinho tão lindo, que até se mexe se carregarmos no botão que está na parede, não é para andar… “Mas, ó Mãe, se nem precisas de pôr moeda!”. Pois, é um desafio…
5 – E lembrem-se…
Nem todos – nem mesmo os artistas – sabem tudo o que é possível saber sobre determinada obra de arte. Confiem no vosso olhar e intuição e encorajem as crianças a fazer o mesmo. Não pode correr mal.
Fonte: Estas 5 dicas são uma tradução livre do folheto “Making the most of the gallery with your kids” produzido pela Te Puna O Waiwhetu Christchurch Art Gallery, Nova Zelândia
Respondendo às minhas perguntas a partir de uma festa de família importante (obrigada também por isso!), Namalimba Coelho deixou uma sugestão que pode ajudar as famílias a escolher um bom programa: consultar as áreas dos serviços educativos nos sites dos museus. Eu adiantei-me, fiz uma pesquisa rápida e, como me encheu as medidas, partilho por aqui. Quem souber de mais, diga que eu acrescento…
E o Dia Internacional dos Museus é já dia 18!
Sugestões para visitas a museus de arte em Portugal (links directos para as áreas educativas/programas para crianças):
- Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
- Museu Berardo, Lisboa
- Fundação Serralves, Porto