O que há de errado com este mapa do mundo? Já encontraram o vosso país? Foi imediato ou ficaram baralhados?
Na verdade não há nada de errado neste mapa que encontrámos na Ilha Sul da Nova Zelândia. Simplesmente coloca no centro do planisfério a região da Oceânia, mostrando-nos um ponto de vista diferente do mesmo mapa de sempre.
Nesta “versão”, a Europa é encostada ao lado superior esquerdo do planisfério ficando numa posição periférica. Gosto da ideia. Principalmente porque abandona a visão eurocêntrica e de prevalência das grandes potências do Norte (ditada no século XVI pela Projecção de Mercator e semi-corrigida séculos mais tarde pela Projecção de Mollweide) que é o modelo que conhecemos quando crianças, desde a sala da escola primária às aulas de Geografia.
O que me levou a pensar que a nossa percepção do mundo começa por aqui, e começa mal…
Alguns questionam a propósito dos atentados terroristas: por que é que 17 mortes em Paris são mais importantes para a comunicação social, e consequentemente para a sociedade ocidental, do que duas mil na Nigéria?
Não é algo que nasce connosco isso de ficarmos muito impressionados com uma tragédia que acontece em Nova Iorque e nem nos importarmos, por exemplo, com uma colónia que ainda existe em África, chamada Sahara Ocidental, ocupada por Marrocos e com um governo no exílio na Argélia. E não me venham falar em proximidade geográfica. De Lisboa a El Aaiún vai menos de metade da distância de Lisboa a Nova Iorque. Nem me falem em proximidade cultural. Os árabes dominaram a Península Ibérica durante séculos, influenciando a língua e as artes, alguns seremos “filhos” deles.
Não é, de todo, somente uma questão de proximidade. Aprendemos é a ser e a pensar assim. Ouvimos e somos levados a pensar que em África, tal como em outros lugares da América Latina ou da Ásia, a vida não vale muita coisa, “não vale o mesmo do que para nós”. Nós, os civilizados. Como se a dor de uma mãe que perde um filho ou de um filho que perde uma mãe tivesse ranking em função do idioma, da religião ou da latitude. Mas é o que vamos interiorizando. O nós e “os outros”.
E uma das causas para este pensamento começa talvez na interpretação que fazemos do mundo e que nos posiciona (Europa e hemisfério norte) numa localização central e destacada perante os outros países e continentes.
A reconfiguração do planisfério como encontrámos por acaso numa parede da Nova Zelândia causa estranheza no início, e obriga-nos a um esforço para olharmos uma e duas vezes para “nos procurarmos”. E enquanto nos procuramos, vemos e encontramos pelo caminho quem nos rodeia, ganhando novas perspectivas e pontos de vista.
Parece-me uma boa metáfora e também um exercício interessante à falta de uma ideia universal que nos convença que o mundo é mesmo redondo.
A propósito de tudo o que disseste, há um excerto da série “West Wing” que é fantástico: https://www.youtube.com/watch?v=vVX-PrBRtTY
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