O Antelope Canyon, situado numa reserva de índios navajo a cerca de três horas de carro do famoso e icónico Grand Canyon, no Arizona, é um desses lugares do mundo onde pensamos: mas esta beleza existe mesmo?! Será possível que estava aqui à espera de ser por nós conhecida?!
Durante milhões de anos a água e o vento esculpiram a areia dando origem a uma formação rochosa inusitada, uma espécie de duna de pedra, uma obra-prima da natureza. Por aqui correram um dia manadas de antílopes que deram nome ao local mas o povo navajo chama-lhe Tse’ bighanilini, “o lugar onde a água flui entre as rochas”. E de tanto a água fluir criou remoinhos e espirais que ficaram cravados na pedra.
Para conhecer este sítio com enorme significado espiritual para os índios navajo temos de descer e entrar terra adentro. Neste local abrigaram-se do calor do deserto e mataram a sede muitas gerações de índios. Nas entranhas da terra espera-nos uma espécie de garganta muito estreita e ondulante que percorremos ao longo de quase hora e meia em compasso (muito) lento. Por momentos, se conseguirmos ouvir o silêncio, parece que estamos numa catedral construída pelas forças da natureza.
Quando o sol do meio-dia está a pique penetra pelas frestas criando um jogo de luzes e sombras que é o delírio para qualquer fotógrafo ou apenas para um comum apreciador da natureza. As formas ondulantes, a paleta de cores entre o amarelo, o laranja, o castanho e o roxo, as texturas marcadas pela água, pelo vento e pelo tempo, são de uma beleza única, uma rocha feita poema. Um poema que está em mutação permanente e todos os dias transforma-se mais um pouco.
Este lugar é formado pela zona superior e inferior: o Upper Antelope Canyon – o mais popular e que fica à superfície – e o Lower Antelope Canyon – onde é preciso descer por umas escadas metálicas. Optámos por fazer este último, o Lower Antelope Canyon, e gostámos da escolha. As visitas são guiadas e é preciso ter hora marcada mas na época alta há grupos a sair de 20 em 20 minutos.
A melhor altura para visitar o Antelope Canyon é por volta do meio-dia nos meses de Junho a Setembro, o que coincidiu com a nossa ida. O único problema é que esta é também a época alta e a multidão que se junta no espaço é demasiada. Estão (estamos) todos tão obcecados em tirar milhentas fotografias que nessa voragem quase que se arruina uma caminhada que tem tudo para ser mágica e inesquecível. Quase…
Ficámos tão fascinados com este lugar que já pensamos em voltar daqui a uns anos. Nessa altura queremos ir a um outro sítio semelhante ao Antelope Canyon e que fica a alguns quilómetros de distância. Chama-se The Wave – “a onda”, procurem aqui e pasmem-se – e é também uma formação rochosa mas mais frágil e com um acesso muito mais difícil. Por tudo isso só pode ser visitada por um número muito limitado de pessoas que são escolhidas por sorteio. As inscrições podem ser feitas online com 4 meses de antecedência (!) ou presencialmente, na véspera do passeio.
Ainda pensámos ir a Kanab (na verdade estivemos lá) para nos inscrevermos e tentar a nossa sorte mas as temperaturas muito elevadas, o facto da Mia ser tão pequena, e a pouca probabilidade de nos sair a lotaria – em média, há uma centena de pessoas a disputar 10 lugares – fizeram-nos pensar que era melhor esta “onda” ser apanhada outro dia.
Se por acaso forem lá, contem-me tudo depois.
Dicas práticas
Como ir:
A melhor forma é ir de carro partindo de Las Vegas, como fizemos, passando pelo Grand Canyon em direcção à cidade de Page. Foi aqui que dormimos num dos vários motéis de estrada que existem na região e seguimos de manhã para o Antelope Canyon. Chegámos atrasados, depois da hora marcada mas conseguiram juntar-nos a um grupo que partia mais tarde e apanhámos mesmo o Sol do meio-dia. Do Grand Canyon até Page são cerca de 3 horas de viagem.
Como visitar:
Existem várias agências a conduzir visitas guiadas ao Antelope Canyon. Além do preço da tour – entre os 20 e os 100 dólares – é preciso pagar uma taxa de entrada em território dos índios navajo – a chamada Navajo Nation.
Nós fizemos por esta empresa, uma das mais baratas, o guia era cinco estrelas e deu-nos muitas dicas para as fotografias. O único problema é que, de facto, o canyon é pequeno para tanta procura e na maior parte do tempo estamos ou a atropelar alguém ou a ser atropelados.
Ir com crianças:
O passeio é relativamente curto e faz-se muito tranquilamente, apesar das elevadas temperaturas desta altura do ano. A Mia adorou esgueirar-se pelas passagens mais estreitas e, tal como nós, só no final demonstrou cansaço do pára-arranca causado pela multidão em fúria fotográfica. Até aos 6 anos as crianças não pagam e a partir dessa idade pagam metade.
O que levar:
Tripé! As fotografias ficam muito melhores. Nós não tinhamos e, por isso, as melhores fotos são as que tirámos com o telemóvel. Existem visitas específicas para fotógrafos – profissionais e amadores – e, nesses casos, é mesmo obrigatório levar tripé.
Inspiração:
Em terra de índios navajo é famoso um poema que começa com o verso “May I walk in beauty” e fala da nossa caminhada pelo mundo com desejos de que a beleza esteja sempre presente na nossa vida, em tudo aquilo que nos propomos fazer. Termino a nossa passagem pelo Antelope Canyon com uma versão, escrita para a Mia, dessa prece.
Pudesse ela sempre caminhar na beleza
Pudesse ela sempre brincar às escondidas como a luz e a sombra brincam neste desfiladeiro em terra de índios
Pudesse ela sempre vaguear numa duna esculpida por água e vento que o tempo petrificou
Pudesse ela sempre sentir os meus dedos entrelaçados nos dela
Pudesse ela viver rodeada de beleza por todos os lados. Sempre.
Brutal! Verdadeiros wallpapers 🙂
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🙂 Acho que há mesmo wallpapers do Antelope Canyon
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Opá, que lindo!…
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É incrível! Bjs
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