Há uns dias li uma notícia sobre a indústria têxtil portuguesa estar apostada nas exportações para a América Latina. Um empresário dizia que o foco eram as camadas da população com “maior apetência por produtos de maior valor acrescentado”. Estava a ler isto e lembrei-me da absoluta perfeição que atingem as peças têxteis produzidas por mulheres e homens no Perú e na Bolívia. As cores, os desenhos, os padrões, as texturas, as histórias agregadas a cada um dos fios de lã de alpaca, lama ou ovelha transformados em arte. Comunidades indígenas que reproduzem, ao longo dos séculos, técnicas primorosas através de processos manuais, sustentáveis e amigos do ambiente e que dependem da venda destes artigos para a sua sobrevivência. No Vale Sagrado dos Incas, no Perú, como depois na Bolívia, vimos arte e alta costura a acontecer nas aldeias e centros têxteis. Primeiro, a lã de alpaca é lavada à mão com produtos naturais, depois seca, dando-se início à fiação com um fuso de madeira. A “fibra dos deuses” é então colocada em panelas para tingir (plantas, terra e insectos dão as cores desejadas). Com os novelos feitos começa o processo manual de tecelagem através do entrelaçamento criativo dos fios. Todos os desenhos e padrões têm significado e contam histórias transmitidas de geração em geração. E, enquanto fazia este vídeo, fiquei a pensar no que terá “maior valor acrescentado” do que isto…